
Quando o outro muda e você fica para trás
Ela pedia há meses para que ele mudasse. Mais presença, mais escuta, mais compromisso. E ele, entre silêncios e adiamentos, um dia finalmente mudou. Mudou tanto que se transformou. Começou a se cuidar, a olhar para si, a seguir novos caminhos. E quando ela se deu conta, a mudança que tanto esperava nele já não cabia mais na relação que um dia construíram.
Foi então que ela percebeu: enquanto ele se movia, ela ainda esperava.
Há um tipo de espera que paralisa. Uma espera que exige do outro o movimento que só poderia vir de dentro de nós mesmos. É mais fácil responsabilizar o externo. O outro. O sistema. A infância. O tempo. Mas essa lógica é traiçoeira, porque nos mantém presos à ilusão de que a mudança está fora, e que seremos felizes e livres quando tudo ao redor se transformar. Mas isso não é verdade.
A autorresponsabilidade é o ponto de virada mais desafiador e mais libertador da maturidade. Assumir o protagonismo da própria história dói, porque exige que deixemos para trás o papel de vítima, e com ele, o conforto da velha desculpa: “não foi culpa minha”.
Mas é esse exato ponto onde começamos, de fato, a crescer. Carl Gustav Jung, ao falar sobre o processo de individuação, nos lembra que só nos tornamos inteiros quando deixamos de projetar no outro o que nos cabe. Ele diz, em O Eu e o Inconsciente: “Individuar-se significa tornar-se um ser único e realizar aquilo que é potencialmente dado em nós mesmos”.
É quando nos responsabilizamos por nossas escolhas, emoções e principalmente as consequências que nos tornamos conscientes de quem realmente somos e deixamos de esperar que o outro nos salve, nos mude, nos dê o que ainda não conseguimos dar a nós mesmos. Então, a pergunta que fica é: O que está ao seu alcance transformar agora, com coragem e verdade?

Responsabilizar-se não é carregar culpa. É escolher liberdade. Porque o tamanho da sua liberdade está diretamente ligado ao quanto você se compromete com a sua própria vida. Não se perca de vista.

