Moda com Propósito

Labubu: o brinquedo que virou símbolo de desejo, status e pertencimento forçado

O Labubu transcendeu a definição de toy art e se tornou um verdadeiro fenômeno cultural. Criado em 2015 pelo artista Kasing Lung, de Hong Kong, para uma série de livros infantis, o monstrinho de sorriso torto e orelhas pontudas nasceu da mistura entre fofura e estranheza — dois elementos que marcam o trabalho do designer no universo da arte de brinquedo.

Por que todo mundo quer?

A grande virada veio quando a gigante chinesa Pop Mart, especializada em blind boxes, incluiu o personagem em seu portfólio em 2019. A partir daí, o Labubu deixou de ser um item de nicho e ganhou o mundo, aparecendo em vitrines, estantes, bolsas e — claro — nas redes sociais. Só em 2024, o personagem foi responsável por 23% das vendas globais da Pop Mart. No TikTok, a hashtag #labubu já acumula mais de 1,4 milhão de vídeos, alimentando o ciclo de desejo e viralização.

Se a fofura explica uma parte do hype, a outra metade vem da experiência que envolve o universo do toy art. O Labubu é vendido no formato blind box — uma caixa surpresa que esconde qual versão você vai receber. Esse modelo ativa um jogo de expectativa, sorte, ansiedade e conquista. Existem também as versões ultra raras, que são praticamente impossíveis de achar, o que torna cada compra uma aposta — e cada acerto, uma celebração.


Mas o desejo não ficou restrito aos colecionadores. O Labubu invadiu o mundo da moda, impulsionado por uma tendência que voltou com força no último ano: os charms, aqueles pingentes, chaveiros e objetos pendurados nas bolsas de luxo. Influenciadoras, fashionistas e celebridades começaram a exibir seus Labubus nas alças de bolsas da Chanel, Dior, Louis Vuitton e Balenciaga.
Entre as responsáveis por esse boom está ninguém menos que Lisa, do Blackpink, que apareceu com seus Labubus nas redes e rapidamente acendeu o radar global. A partir daí, o personagem deixou de ser só um item de coleção e passou a ser também marcador de estilo, desejo e repertório cultural.


Não é só consumo, é um jogo


A lógica da escassez é parte fundamental desse sucesso. Drops limitados, raridades escondidas e o fator surpresa do blind box fazem com que o ato de compra se transforme em um jogo de tentativa, erro e, quando dá certo, uma explosão de euforia. Quem compra não leva só o objeto — leva a experiência, a emoção e, principalmente, o sentimento de pertencimento a uma comunidade global que entende esse código.


E o Lafufu?


No embalo do hype, surgem também as versões paralelas — ou melhor, os fakes. O Lafufu, como ficou conhecido, é a cópia vendida em lojas populares ou marketplaces da China. Quem compra o Lafufu entra na estética, participa visualmente da trend, mas não vive a experiência completa que é parte essencial da cultura dos toys arts.

Não existe blind box, não existe raridade, não existe a conexão com a obra do artista. O que era arte de colecionador para adultos — um jogo simbólico de desejo, sorte e escassez — se reduz a um bichinho fofo, comprado como qualquer pelúcia. No fim, cada um escolhe: quem quer só o objeto, ou quem quer também viver a experiência, o significado e o valor que o original carrega


Mais do que um brinquedo, o Labubu virou senha cultural. Ele não é só sobre posse, mas sobre repertório, pertencimento e conexão. Num mundo onde o consumo está cada vez mais simbólico, quem entende, sabe.

Fotos: Reprodução/Redes sociais

Jornalista e pesquisadora de tendências. Analisa o universo da moda além da estética, explorando identidade, sustentabilidade e consumo consciente.

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